A cada ano, observo em meu consultório um aumento significativo de pacientes com problemas gastrointestinais que poderiam ser evitados com medidas preventivas simples.
Pensando justamente em prevenir problemas mais sérios em meus pacientes, selecionei 10 dicas para evitar problemas gastrointestinais, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.
Segundo dados do Ministério da Saúde, somente em 2018 foram registrados 156.480 óbitos por doenças gastrointestinais no Brasil, o que equivale a 11,9% de todas as mortes daquele ano.
Mais recentemente, estudos mostram que a prevalência das doenças inflamatórias intestinais aumentou cerca de 15% ao ano entre 2012 e 2020 no país.
Como cirurgião do aparelho digestivo, enfatizo a importância de consultas regulares com um especialista, pois o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para evitar complicações graves que podem exigir intervenções cirúrgicas.
Continue a leitura e confira 10 dicas para prevenir problemas do trato gastrointestinal, evitando assim o surgimento de condições mais sérias!
O sistema digestivo e suas vulnerabilidades
Nosso sistema digestivo é composto por vários órgãos essenciais, como esôfago, estômago, intestinos, fígado, vesícula biliar e pâncreas.
Cada um desses órgãos desempenha funções específicas no processo de digestão e absorção de nutrientes.
Quando há desequilíbrios nesse sistema, podem surgir diversos problemas como gastrite, refluxo gastroesofágico, úlcera péptica, gases, prisão de ventre, pancreatite e doenças inflamatórias intestinais.
Em minha experiência clínica, tenho observado que fatores como má alimentação, falta de rotina alimentar, estresse, sedentarismo, obesidade, alcoolismo e tabagismo estão diretamente relacionados ao aumento dos casos de distúrbios gastrointestinais.
A rotina acelerada da sociedade moderna, com jornadas de trabalho extensas e consumo excessivo de alimentos processados, tem contribuído significativamente para esse cenário preocupante.
10 dicas para evitar problemas gastrointestinais
1. Consuma alimentos ricos em fibras
Para meus pacientes com histórico de constipação ou outras disfunções intestinais, sempre recomendo uma dieta rica em fibras.
Alimentos integrais, frutas, legumes e verduras são fundamentais para a formação adequada do bolo fecal e para o trânsito gastrointestinal saudável.
A recomendação atual para adultos saudáveis é de 25 a 38 gramas de fibras diariamente, com o consumo de cinco a sete porções de frutas e vegetais por dia, além da inclusão de aveia e outros alimentos integrais no cardápio.
2. Mantenha-se bem hidratado
A ingestão adequada de água é essencial para o bom funcionamento do sistema digestivo.
Estudos mostram que pessoas que não se hidratam adequadamente apresentam maior incidência de constipação e outras complicações intestinais, pois a água ajuda a formar o bolo fecal, evita o ressecamento das fezes e facilita o trânsito intestinal.
Recomenda-se a ingestão de 2 e 3 litros de água diariamente, ajustando essa quantidade conforme o clima e o nível de atividade física.
3. Pratique atividade física regularmente
O sedentarismo é um dos grandes vilões da saúde digestiva. Em minhas consultas, sempre enfatizo que a prática regular de exercícios físicos estimula a motilidade intestinal e reduz o risco de constipação.
Os resultados são expressivos em pacientes que adotaram uma rotina de atividades como caminhadas, natação ou yoga.
Além dos benefícios diretos sobre o sistema digestivo, o exercício físico ajuda no controle do peso e na redução dos níveis de estresse, fatores que também impactam a saúde gastrointestinal.
4. Gerenciamento do estresse e problemas gastrointestinais
Uma das queixas mais comuns que escuto no consultório está relacionada ao impacto do estresse sobre o sistema digestivo.
Estudos científicos confirmam que o estresse pode desencadear ou agravar problemas gastrointestinais como gastrite, úlceras e síndrome do intestino irritável.
O eixo intestino‑cérebro estabelece uma conexão bidirecional entre esses órgãos, o que explica essa relação.
Técnicas de relaxamento, meditação e, em alguns casos, acompanhamento psicológico, são indicados para indivíduos que apresentam sintomas digestivos associados ao estresse.
5. Alimente-se de forma consciente
Muitos dos distúrbios digestivos que trato diariamente estão relacionados à forma como nos alimentamos. Comer rapidamente, sem mastigar adequadamente, é prejudicial à digestão.
Oriento meus pacientes a sentarem‑se para as refeições, comerem calmamente e mastigarem bem os alimentos.
É importante lembrar que a digestão começa na boca, e uma mastigação inadequada sobrecarrega o estômago e o intestino, podendo causar gases, distensão abdominal e má absorção de nutrientes.
6. Inclua probióticos na sua dieta
Os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, trazem benefícios à saúde do hospedeiro.
O ideal é o consumo regular de alimentos probióticos, como iogurtes naturais e outros alimentos fermentados, especialmente para pacientes com disbiose intestinal ou após tratamentos com antibióticos.
Estudos recentes demonstram que os probióticos podem ser particularmente benéficos para mulheres com constipação, diarreia funcional e síndrome do intestino irritável.
7. Reduza o consumo de gorduras saturadas e açúcares
O consumo excessivo de gorduras saturadas e açúcares está associado a diversos problemas digestivos.
A orientação é limitar o consumo de carnes gordurosas, alimentos fritos e ultraprocessados.
Esses alimentos são mais difíceis de serem digeridos e podem causar desconforto abdominal, constipação e gases.
Vale ressaltar que estão associados ao desenvolvimento de doenças como câncer colorretal, diabetes e obesidade, que têm impacto direto na saúde gastrointestinal.
8. Evite toxinas e substâncias prejudiciais
Em meu consultório, sempre alerto sobre os danos que o consumo de álcool, tabaco e outras substâncias tóxicas pode causar ao sistema digestivo.
O álcool, em particular, está diretamente relacionado a diversas doenças digestivas, incluindo gastrite, pancreatite e doenças hepáticas.
Estudos mostram que o consumo excessivo de álcool é mais frequente entre homens, o que pode explicar parcialmente a maior incidência de problemas gastrointestinais nesse grupo.
9. Tenha cuidado com medicamentos sem prescrição
Um erro comum que observo é o uso indiscriminado de medicamentos sem orientação médica, especialmente laxantes e anti-inflamatórios.
O uso prolongado de laxantes pode prejudicar o funcionamento natural do intestino, criando dependência.
Já os anti-inflamatórios não esteroidais podem causar gastrite e úlceras quando usados de forma inadequada.
Por isso, sempre consulte um médico antes de iniciar qualquer tratamento medicamentoso.
10. Adicione gorduras saudáveis à sua alimentação
Nem todas as gorduras são prejudiciais à saúde digestiva.
As gorduras saudáveis, como as encontradas em azeite de oliva, abacate, castanhas e peixes, são importantes para a absorção de vitaminas lipossolúveis e para a diminuição de processos inflamatórios no sistema digestivo.
Tenho recomendado a meus pacientes que substituam as gorduras saturadas por estas versões mais saudáveis, observando melhoras significativas em casos de inflamação intestinal.
Conclusão
Ao longo de minha carreira como cirurgião do aparelho digestivo, tenho constatado que grande parte dos problemas gastrointestinais pode ser prevenida ou minimizada com hábitos saudáveis.
As 10 dicas para evitar problemas gastrointestinais apresentadas acima representam o que de mais atual existe em termos de prevenção de doenças digestivas.
Ainda assim, é fundamental ressaltar que, caso os sintomas persistam ou se agravem, a consulta com um especialista é indispensável para o diagnóstico preciso e tratamento adequado.
Cuide de seu sistema digestivo hoje para garantir uma melhor qualidade de vida no futuro!