Durante meus mais de 15 anos de experiência como gastroenterologista especializado em refluxo gastroesofágico, uma das situações que mais me chamam atenção no consultório é quando pacientes chegam com queixas respiratórias sem imaginar que a origem do problema pode estar no estômago.

Os sintomas de refluxo pulmonar representam uma realidade muito mais comum do que a maioria das pessoas imagina, afetando significativamente a qualidade de vida de milhões de brasileiros.

É fascinante e ao mesmo tempo preocupante observar como o ácido gástrico, que deveria permanecer restrito ao estômago, consegue alcançar as vias respiratórias e causar uma série de sintomas que muitas vezes são confundidos com problemas pulmonares primários.

Em minha prática clínica, tenho visto pacientes que peregrinam por diversos especialistas antes de descobrir que seus problemas respiratórios têm origem no trato digestivo.

Pensando em esclarecer todas essas dúvidas, reuni neste artigo tudo que você precisa saber sobre refluxo pulmonar, sintomas, tratamento e a importância do diagnóstico precoce.

Como o refluxo gastroesofágico afeta o sistema respiratório

O refluxo gastroesofágico ocorre quando o ácido do estômago retorna involuntariamente para o esôfago, podendo alcançar a garganta e até mesmo as vias aéreas.

Esse processo acontece principalmente devido à disfunção do esfíncter esofágico inferior, uma estrutura muscular que normalmente impede a subida do conteúdo gástrico.

Estudos científicos demonstram que existem dois mecanismos principais pelos quais o refluxo pode causar sintomas respiratórios.

  1. Microaspiração, onde pequenas quantidades de ácido gástrico são inaladas para as vias aéreas, causando irritação direta da mucosa respiratória.
  2. O segundo mecanismo envolve reflexos vagais, onde a irritação do esôfago pelo ácido ativa nervos que se comunicam com os pulmões, desencadeando sintomas respiratórios mesmo sem aspiração direta.

Principais sintomas de refluxo pulmonar

Os sintomas de refluxo pulmonar mais frequentes são:

  • Tosse crônica, geralmente uma tosse seca e persistente, especialmente após as refeições ou ao se deitar.
  • Rouquidão e alterações na voz, pois o ácido que reflui até a garganta irrita as cordas vocais, causando inflamação persistente. Estudos mostram que mais de 92% dos pacientes com laringite de refluxo apresentam rouquidão como sintoma principal.
  • Sensação de pigarro constante, como se tivesse algo “preso” na garganta, levando à necessidade constante de “limpar” a garganta.
  • Agravamento da asma, onde o ácido pode causar inflamação das vias aéreas e ativar reflexos que estreitam os brônquios, piorando os sintomas asmáticos.

A realidade epidemiológica no Brasil

No Brasil, a prevalência da doença do refluxo gastroesofágico corresponde a uma taxa de 12% a 20% da população urbana, o que significa que entre 20 a 30 milhões de brasileiros podem estar afetados por essa condição.

Uma pesquisa particularmente interessante realizada na região Centro-Oeste do Brasil revelou que 47% dos habitantes apresentam sintomas da doença, mas apenas 39% conseguem associá-los corretamente ao refluxo gastroesofágico, demonstrando um grave problema de subdiagnóstico.

O estudo realizado em Pelotas, Rio Grande do Sul, encontrou uma prevalência ainda mais preocupante de 31,3% na população adulta, confirmando que esta é uma condição de alta prevalência em nosso país.

Quando suspeitar de refluxo pulmonar

Alguns critérios ajudam a identificar quando sintomas respiratórios podem ter origem no refluxo gastroesofágico, como:

  • O paciente apresenta tosse crônica que não responde ao tratamento respiratório convencional
  • Os sintomas respiratórios pioram após as refeições ou ao se deitar
  • Há associação com azia, regurgitação ou sensação de queimação
  • A rouquidão é persistente sem causa aparente
  • Existe histórico de sobrepeso ou obesidade, fatores que aumentam significativamente o risco

Estudos mostram que pacientes obesos têm maior prevalência de sintomas de refluxo gastroesofágico, algo que confirmo rotineiramente em minha prática clínica.

Abordagem diagnóstica e tratamento

Quando há suspeita de sintomas de refluxo pulmonar, utilizo uma abordagem diagnóstica sistemática.

A endoscopia digestiva alta continua sendo o exame padrão-ouro para avaliar lesões no esôfago, enquanto a pHmetria de 24 horas permite quantificar a exposição ácida do esôfago.

O tratamento baseia-se em três pilares fundamentais:

  1. Mudanças no estilo de vida são essenciais: elevação da cabeceira da cama, evitar refeições tardias, perder peso quando necessário e eliminar alimentos que sabidamente pioram o refluxo, como gordurosos, cítricos, cafeína e bebidas gaseificadas.
  2. Medicamentos supressores de ácido são geralmente necessários. Os inibidores da bomba de prótons são muito eficazes em reduzir a acidez gástrica e permitir a cicatrização do esôfago.
  3. Acompanhamento multidisciplinar é fundamental, onde o trabalho em conjunto com pneumologistas e otorrinolaringologistas oferece o melhor cuidado aos pacientes.

A importância do diagnóstico precoce

O diagnóstico tardio dos sintomas de refluxo pulmonar pode levar a complicações significativas.

O refluxo não tratado pode causar pneumonia aspirativa, bronquite crônica e até mesmo fibrose pulmonar em casos graves.

Além disso, pacientes asmáticos com refluxo não tratado apresentam maior necessidade de medicação broncodilatadora e crises mais frequentes, impactando significativamente sua qualidade de vida.

Conclusão

Os sintomas de refluxo pulmonar representam uma realidade clínica complexa que exige atenção especializada.

O diagnóstico correto e o tratamento adequado podem transformar a vida dos pacientes, aliviando sintomas que muitas vezes os acompanhavam há anos.

É fundamental que tanto médicos quanto pacientes estejam conscientes de que problemas respiratórios podem ter origem no trato digestivo.

O reconhecimento precoce dessa associação contribui para um tratamento mais eficaz e melhora significativa da qualidade de vida.

Se você tem enfrentado sintomas respiratórios persistentes como tosse crônica, rouquidão ou piora da asma, especialmente se acompanhados de azia ou regurgitação, agende uma consulta comigo.

Como gastroenterologista especializado em refluxo, posso ajudar a identificar se seus sintomas têm origem no sistema digestivo e orientar o tratamento mais adequado para seu caso.

Dr. Thiago Tredicci, Gastroenterologista e Cirurgião do Aparelho Digestivo. Experiente em cirurgia geral. CRM GO 12828, RQE 8168 e 8626.