Em minha prática como gastroenterologista, uma das perguntas que mais ouço no consultório é: “Doutor Thiago Tredicci, é verdade que refluxo pode virar câncer?”

A resposta é sim, e essa é uma realidade que devemos levar a sério. O refluxo gastroesofágico, quando não tratado adequadamente, pode evoluir para complicações graves, incluindo o temido câncer de esôfago.

Como médico especialista em doenças do aparelho digestivo, presencio diariamente pacientes que chegam ao consultório com sintomas que inicialmente parecem simples, mas que podem esconder riscos significativos.

A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) afeta entre 12% a 20% da população urbana brasileira, o que representa aproximadamente 20 a 30 milhões de pessoas em nosso país.

Esses números são preocupantes e demonstram a magnitude do problema que enfrentamos.

Continue a leitura e entenda porque o refluxo pode evoluir para câncer, além de conhecer os fatores de risco e como prevenir!

O que é o refluxo gastroesofágico

O refluxo gastroesofágico ocorre quando o conteúdo ácido do estômago retorna para o esôfago, causando os sintomas clássicos como azia, queimação, regurgitação e, em alguns casos, sintomas menos óbvios como tosse crônica, rouquidão e dor no peito.

Em minha experiência clínica, observo que muitas pessoas convivem com esses sintomas por anos, acreditando que são apenas “problemas de estômago” passageiros.

Durante minhas consultas, costumo explicar aos pacientes que o esôfago não possui a mesma proteção natural que o estômago tem contra a acidez.

Quando o ácido gástrico entra em contato repetidamente com a mucosa esofágica, inicia-se um processo inflamatório crônico que pode ter consequências graves se não for adequadamente controlado.

Como o refluxo pode virar câncer

A pergunta sobre como o refluxo pode virar câncer é fundamental para compreendermos a importância do tratamento precoce.

O processo é gradual e passa por diferentes estágios. Inicialmente, o contato constante do ácido com o esôfago causa esofagite, uma inflamação da mucosa.

Se não tratada, esta inflamação crônica pode levar a alterações celulares mais complexas.

Tenho observado que pacientes com refluxo persistente podem desenvolver uma condição chamada esôfago de Barrett, que afeta aproximadamente 3 milhões de pessoas no Brasil.

Esta condição representa uma metaplasia intestinal, onde as células normais do esôfago são substituídas por células semelhantes às do intestino.

O esôfago de Barrett é considerado uma lesão pré-cancerígena que aumenta significativamente o risco de desenvolvimento de adenocarcinoma esofágico.

Durante minha carreira, tenho acompanhado pacientes que desenvolveram essa progressão, e posso afirmar que a detecção precoce e o tratamento adequado fazem toda a diferença no prognóstico.

O esôfago de Barrett: o elo perdido

O esôfago de Barrett merece atenção especial porque representa o elo entre o refluxo benigno e o câncer.

Dados recentes mostram que houve um aumento de 50% na prevalência do esôfago de Barrett nos últimos anos, uma tendência alarmante que observo também em minha clínica.

Sempre explico aos pacientes que ter esôfago de Barrett não significa necessariamente que desenvolverão câncer, mas sim que necessitam de vigilância endoscópica regular.

A progressão de Barrett para adenocarcinoma pode levar anos, e durante esse período, temos oportunidades valiosas de intervenção e prevenção.

A prevalência do esôfago de Barrett em pacientes com DRGE varia, mas estudos brasileiros indicam uma taxa de aproximadamente 10% entre os pacientes submetidos à endoscopia.

Esses dados reforçam a importância do diagnóstico precoce e do acompanhamento adequado.

Dados alarmantes do Brasil e do mundo

Os números sobre câncer de esôfago no Brasil são preocupantes. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estimam-se 10.990 novos casos de câncer de esôfago para o triênio 2023-2025.

Há uma disparidade regional significativa. O Rio Grande do Sul apresenta a maior prevalência no país, com 20,1 casos para cada 100 mil habitantes, contrastando com São Paulo, que registra 7,8 casos para cada 100 mil.

Essa diferença está relacionada aos hábitos regionais, como o consumo de bebidas muito quentes, particularmente o chimarrão.

No mundo, o câncer de esôfago é o sexto mais comum entre os homens e representa mais de 600 mil novos casos anualmente no mundo.

Esses números demonstram que não se trata de um problema exclusivamente brasileiro, mas de uma preocupação de saúde pública global.

Fatores de risco e prevenção

Existem padrões consistentes nos fatores de risco. Além do refluxo não tratado, outros fatores importantes incluem:

  • Tabagismo.
  • Consumo excessivo de álcool.
  • Obesidade.
  • Consumo de bebidas muito quentes.
  • Dieta pobre em frutas e vegetais.

A prevenção é sempre o melhor caminho. Oriento meus pacientes sobre mudanças no estilo de vida que podem reduzir significativamente os riscos, como:

  • Manutenção do peso adequado.
  • Cessação do tabagismo.
  • Moderação no consumo de álcool.
  • Evitar bebidas muito quentes e alimentos irritantes.
  • Não se deitar imediatamente após as refeições.

O acompanhamento médico regular é fundamental. Recomendo endoscopia digestiva alta para pacientes com refluxo sintomático persistente, especialmente aqueles com fatores de risco adicionais.

A detecção precoce de alterações como esofagite, esôfago de Barrett ou displasia pode alterar completamente o prognóstico.

Conclusão

Como gastroenterologista, posso afirmar categoricamente que refluxo pode virar câncer, mas essa evolução não é inevitável. A chave está no diagnóstico precoce, tratamento adequado e acompanhamento regular.

Pacientes que seguem as orientações médicas e mantêm um estilo de vida saudável conseguem controlar efetivamente o refluxo e prevenir suas complicações.

A conscientização sobre os riscos é fundamental. Muitos dos meus pacientes chegam ao consultório apenas quando os sintomas se tornam insuportáveis, mas o ideal é buscar ajuda médica nos primeiros sinais de refluxo persistente.

O câncer de esôfago é uma doença grave, mas altamente prevenível quando adotamos as medidas adequadas.

Lembro sempre aos meus pacientes que cada caso é único, e que o acompanhamento médico personalizado é essencial para manter a saúde digestiva e prevenir complicações graves, e a medicina preventiva continua sendo nossa melhor aliada na luta contra o câncer.

Se você sofre com sintomas de refluxo ou possui dúvidas sobre sua saúde gastroenterológica, não espere que os sintomas se agravem.

Agende sua consulta e receba o cuidado especializado que você merece. Entre em contato conosco e dê o primeiro passo para uma vida mais saudável e livre dos riscos do refluxo!

Dr. Thiago Tredicci, Gastroenterologista e Cirurgião do Aparelho Digestivo. Experiente em cirurgia geral. CRM GO 12828, RQE 8168 e 8626.