Em minha prática como gastroenterologista e cirurgião do aparelho digestivo, uma das perguntas que mais recebo de meus pacientes é se o refluxo durante o sono pode matar.

Esta preocupação não é infundada, e posso afirmar que, embora seja raro, o refluxo gastroesofágico noturno pode sim representar riscos graves à saúde quando não tratado adequadamente.

A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) afeta entre 5% a 7% da população mundial, sendo que no Brasil essa prevalência chega a 12% a 20% da população urbana, com aproximadamente 20 a 30 milhões de brasileiros convivendo com essa condição.

Tenho observado que muitos pacientes subestimam os riscos do refluxo noturno, considerando-o apenas um incômodo passageiro.

Por isso, reuni neste artigo tudo que você precisa saber sobre o refluxo durante o sono, sinais de alerta e como tratar.

O que acontece durante o refluxo noturno

Durante o sono, nosso corpo assume uma posição horizontal que facilita o retorno do ácido gástrico para o esôfago.

Os sintomas do refluxo noturno são frequentemente mais intensos que os diurnos. Isso ocorre porque, ao deitar-se, a gravidade deixa de ajudar a manter o ácido no estômago, e a produção de saliva diminui, dificultando a neutralização da acidez.

Meus pacientes relatam geralmente os seguintes sintomas:

  • Queimação intensa na garganta.
  • Tosse seca súbita que os desperta.
  • Sensação de sufocamento.
  • Até mesmo engasgos.

Estes episódios podem ser aterrorizantes e, em alguns casos, representam sinais de uma condição mais grave.

Quando o refluxo durante o sono pode matar

Embora estudos mostrem que não há casos documentados de morte por asfixia direta causada pelo refluxo durante o sono, a condição pode evoluir para complicações potencialmente fatais.

Dados internacionais indicam uma taxa de mortalidade de 0,20 por 100.000 pessoas por ano relacionada à DRGE.

Entre as principais causas de morte relacionadas ao refluxo durante o sono, destacamos:

  • Pneumonia aspirativa: Quando o ácido gástrico ou conteúdo alimentar entra nos pulmões durante episódios de refluxo noturno, pode causar infecções pulmonares graves. Esta condição é muito perigosa em pacientes idosos ou com dificuldades de deglutição.
  • Esofagite hemorrágica grave: A inflamação crônica do esôfago pode levar a sangramentos severos que, se não tratados prontamente, podem ser fatais.
  • Perfuração esofágica: Em casos raros, úlceras no esôfago podem perfurar, exigindo uma emergência médica.

Um caso que chamou atenção nacional foi o de uma jovem de 21 anos em São Paulo que morreu engasgada durante um episódio de refluxo. Este evento, embora raro, ilustra a importância de não subestimar os sintomas.

Dados alarmantes sobre mortalidade

Pesquisas demonstram uma conexão preocupante entre refluxo e mortalidade infantil. Um estudo com 499 bebês revelou que aqueles com refluxo grave não tratado apresentaram 9,1% de incidência de mortes relacionadas ao refluxo ou síndrome da morte súbita.

Embora este dado se refira a lactentes, em minha experiência, pacientes adultos com refluxo severo também apresentam riscos aumentados.

Estudos internacionais mostram que a incidência global de DRGE está aumentando anualmente, com taxas de 27,8% na América do Norte e 25,9% na Europa.

No Brasil, a prevalência varia regionalmente, com algumas áreas como o Centro-Oeste apresentando até 47% da população com sintomas.

Sinais de alerta que não devem ser ignorados

Veja os sintomas que não devem ser ignorados:

  • Despertar frequente com sensação de sufocamento
  • Tosse violenta e súbita durante a noite
  • Voz rouca persistente pela manhã
  • Dificuldade para respirar após episódios de refluxo
  • Dor torácica intensa que simula problemas cardíacos
  • Engasgos recorrentes durante o sono

Pacientes que apresentam esses sintomas necessitam de avaliação médica imediata, pois podem desenvolver complicações graves como pneumonia aspirativa ou lesões esofágicas severas.

A conexão perigosa com apneia do sono

Uma descoberta importante é a alta correlação entre refluxo e apneia obstrutiva do sono. Estudos indicam que 35% dos pacientes com apneia têm refluxo gastroesofágico.

Esta combinação é particularmente perigosa, pois ambas as condições se retroalimentam, criando um ciclo vicioso que pode aumentar significativamente os riscos de complicações graves.

Tratamento e prevenção

Em minha abordagem terapêutica, enfatizo que o refluxo gastroesofágico tem caráter recorrente e não se resolve espontaneamente.

O tratamento adequado é fundamental para prevenir que o refluxo durante o sono resulte em morte.

As estratégias que recomendo são:

  • Elevação da cabeceira da cama em 15-20 centímetros
  • Evitar refeições 3 horas antes de dormir
  • Perda de peso em pacientes obesos
  • Cessação do tabagismo
  • Tratamento medicamentoso com inibidores de bomba de prótons
  • Em casos graves, cirurgia antirrefluxo por videolaparoscopia

A cirurgia antirrefluxo apresenta alto índice de cura e resultado permanente.

Pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico adequado apresentam melhora significativa na qualidade de vida e eliminação dos riscos de complicações graves.

Conclusão

Como especialista em cirurgia do aparelho digestivo, posso afirmar que, embora raro, o refluxo durante o sono pode matar quando não tratado adequadamente.

A chave está no reconhecimento precoce dos sintomas e no tratamento apropriado.

Em minha prática, tenho visto que pacientes que buscam ajuda médica especializada conseguem controlar efetivamente a doença e evitar complicações fatais.

É fundamental compreender que o refluxo noturno não é somente um incômodo, mas uma condição médica séria que requer atenção especializada.

Com o diagnóstico correto e tratamento adequado, é possível viver com qualidade e segurança.

Não ignore os sinais do seu corpo. Se você apresenta sintomas de refluxo noturno, não espere que a situação piore.

Estou à sua disposição para ajudá-lo a encontrar a melhor solução para seu caso. Agende sua consulta hoje mesmo e cuide da sua saúde digestiva com a atenção que ela merece!

Dr. Thiago Tredicci, Gastroenterologista e Cirurgião do Aparelho Digestivo. Experiente em cirurgia geral. CRM GO 12828, RQE 8168 e 8626.