Em minha prática clínica como gastroenterologista e cirurgião do aparelho digestivo, uma das perguntas que mais escuto de meus pacientes é: “Doutor Thiago Tredicci, minha gastrite erosiva leve de antro pode virar câncer?”
Esta preocupação é completamente compreensível e merece uma explicação detalhada e humanizada.
Ao longo de anos atendendo pacientes com diferentes tipos de gastrite, observo que existe muito medo e desinformação sobre esta condição.
Por isso, decidi escrever este artigo para esclarecer os fatos científicos de forma acessível e tranquilizadora.
O que é gastrite erosiva e por que ela ocorre no antro
A gastrite erosiva é uma condição caracterizada pela inflamação da mucosa do estômago, acompanhada pela formação de erosões superficiais que podem provocar sangramento.
Quando falamos especificamente do antro, estamos nos referindo à porção inferior do estômago, uma região que frequentemente sofre com este tipo de inflamação.
A gastrite erosiva se distingue de outros tipos por causar lesões superficiais na mucosa estomacal, podendo resultar em sangramentos, erosões ou úlceras. É importante entender que esta é considerada uma forma mais grave de gastrite comparada à não erosiva.
As principais causas são:
- Uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs).
- Consumo excessivo de álcool.
- Refluxo de bile para o estômago.
- Infecção por Helicobacter pylori e estresse.
Dados brasileiros mostram que aproximadamente 70% da população pode estar infectada pela bactéria H. pylori, um fator que considero fundamental na minha avaliação clínica
Gastrite erosiva leve de antro pode virar câncer?
Segundo estudos recentes, a gastrite erosiva em si não se relaciona diretamente com o desenvolvimento de câncer, e suas lesões não evoluem para neoplasias malignas.
No entanto, a situação se torna mais complexa quando consideramos os fatores causadores.
A infecção por Helicobacter pylori, uma das principais causas da gastrite erosiva, pode aumentar o risco de desenvolver tumores gástricos. No Brasil, esta bactéria é responsável por mais de 60% dos casos de câncer de estômago.
Este dado estatístico, embora alarmante, deve ser interpretado com cuidado: ter H. pylori não significa que o paciente desenvolverá câncer.
O tipo de gastrite que apresenta maior correlação com o risco de câncer é a gastrite atrófica, não a erosiva.
A gastrite atrófica caracteriza-se pela redução da produção de ácido gástrico devido à perda das células glandulares estomacais, criando um ambiente propenso ao desenvolvimento de lesões pré-malignas.
Dados epidemiológicos e estatísticas relevantes
Os números brasileiros sobre gastrite são impressionantes e refletem a realidade que vejo diariamente em meu consultório.
Entre 2019 e 2023, foram registradas 63.677 internações por gastrite e duodenite no Brasil. Durante este mesmo período, ocorreram 1.108 óbitos, sendo 2019 o ano com maior número de casos.
A distribuição regional mostra que o Nordeste apresenta o maior número de internações e óbitos, enquanto o Centro-Oeste registra os menores índices. O grupo etário mais hospitalizado foi o de 40 a 49 anos, mas a faixa de 80 anos ou mais apresenta a maior taxa de letalidade.
No mundo, a prevalência da infecção por H. pylori varia significativamente: na América Central e do Sul, entre 70% e 90% da população está infectada, enquanto em países desenvolvidos como Canadá e Estados Unidos, este percentual cai para 30%.
Esta disparidade reflete diferenças socioeconômicas e sanitárias que influenciam diretamente o risco de desenvolvimento de complicações.
Sintomas que merecem atenção médica
Muitos pacientes demoram para procurar ajuda médica porque não reconhecem os sintomas ou os consideram “normais”.
Os sinais mais comuns da gastrite erosiva são:
- Dor estomacal e abdominal.
- Sensação de barriga estufada.
- Má digestão.
- Náuseas.
- Vômito com presença de sangue.
- Sangue nas fezes.
É fundamental que as pessoas compreendam que a presença de sangue no vômito ou nas fezes é um sinal de alarme que requer avaliação médica imediata.
Estes sintomas podem indicar sangramento gastrointestinal, uma complicação que, se não tratada adequadamente, pode evoluir para gastrite hemorrágica.
Diagnóstico e tratamento: a importância da avaliação especializada
O diagnóstico preciso da gastrite erosiva requer exame endoscópico, que permite a visualização direta da mucosa estomacal e a coleta de amostras para análise.
A endoscopia é fundamental não só para confirmar o diagnóstico, mas também para identificar a presença de H. pylori e avaliar o grau das lesões.
O tratamento que prescrevo baseia-se, sobretudo, na causa da doença. Quando identifico a presença de H. pylori, utilizo um esquema de antibióticos específico para eliminar a bactéria.
Nos demais casos, prescrevo medicamentos para reduzir a acidez estomacal, como inibidores da bomba de prótons, e recomendo mudanças importantes nos hábitos alimentares.
Prevenção e cuidados: o papel fundamental do paciente
A prevenção continua sendo a melhor estratégia. Oriento meus pacientes sobre:
- Evitar o uso prolongado de anti-inflamatórios sem prescrição médica.
- Reduzir o consumo de álcool.
- Manter uma alimentação equilibrada, evitando alimentos irritantes como frituras, comidas picantes e café em excesso.
O controle do estresse também merece atenção especial. Embora o estresse do dia a dia não cause lesões importantes no estômago, situações extremas podem provocar gastrite hemorrágica e úlceras.
Por isso, recomendo técnicas de relaxamento e acompanhamento psicológico quando necessário.
Conclusão
Após anos de experiência tratando pacientes com gastrite erosiva, posso afirmar com segurança que a gastrite erosiva leve de antro pode virar câncer apenas em circunstâncias muito específicas e raras.
A forma erosiva, em si, não apresenta risco direto de evolução para câncer. O que requer atenção é a causa subjacente, principalmente a infecção por H. pylori.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir complicações. Quando tratada corretamente, a gastrite erosiva tem excelente prognóstico e, na maioria dos casos, evolui para a cura completa.
A chave está em não negligenciar os sintomas e buscar avaliação médica especializada.
Lembro sempre aos meus pacientes que o medo do câncer não deve impedir a busca por tratamento. Pelo contrário, a avaliação médica precoce é a melhor forma de prevenir complicações e garantir tranquilidade.
Com o tratamento adequado e mudanças no estilo de vida, é possível controlar completamente a gastrite erosiva e manter uma vida saudável e sem limitações.
Está preocupado com sintomas de gastrite?
Agende uma consulta agora e receba o diagnóstico preciso e o tratamento adequado para sua condição.
Sua saúde digestiva merece cuidado especializado e humanizado!