O câncer no pâncreas permanece como um dos desafios mais complexos que enfrento em minha prática clínica diária, particularmente porque a maoria das pessoas desconhece os sintomas de câncer no pâncreas.
Como gastrocirurgião especializado em cirurgias minimamente invasivas, tenho observado um aumento preocupante no número de casos que chegam ao meu consultório já em estágios avançados.
A consulta imediata com é fundamental ao se notar qualquer sinal suspeito, pois o diagnóstico precoce pode aumentar significativamente as chances de sobrevida.
Infelizmente, este tipo de câncer é particularmente silencioso em seus estágios iniciais, o que dificulta a detecção em tempo hábil para intervenções mais eficazes.
Daí a importância de estar atento a determinados sinais, e é exatamente sobre isso que abordaremos aqui!
Sintomas de câncer no pâncreas: sinais de alerta
Em minha experiência clínica, tenho notado que muitos pacientes apresentam sintomas sutis por meses antes do diagnóstico definitivo.
Um estudo conduzido pela Universidade de Oxford, que acompanhou mais de 24 mil pacientes diagnosticados com câncer de pâncreas entre 2000 e 2017, identificou 23 sintomas associados à doença.
Os pesquisadores descobriram que a maioria dos pacientes já apresentava sintomas até um ano antes do diagnóstico oficial.
Os principais sinais de alerta são:
- Icterícia (amarelamento da pele e dos olhos).
- Sangramento no trato gastrointestinal.
- Dor abdominal persistente, especialmente na região superior, e dor nas costas que não melhora com analgésicos comuns.
Outros sintoms que sempre investigo incluem:
- Perda de peso inexplicada.
- Urina escura e fezes claras.
- Fadiga extrema.
- Falta de apetite.
- Náuseas e vômitos persistentes.
- Indigestão frequente.
Chama atenção que o estudo de Oxford identificou sintomas anteriormente não associados ao câncer pancreático, como sede intensa e urina escura.
Em minha prática, tenho orientado minha equipe a estar atenta a estes novos indicadores, especialmente quando ocorrem em conjunto com outros sintomas.
Estatísticas alarmantes e diagnóstico
As estatísticas sobre o câncer de pâncreas são preocupantes. Globalmente, foram registrados 510.992 novos casos em 2022, sendo atualmente o 12º câncer mais comum no mundo.
No Brasil, essa doença é responsável por cerca de 2% de todos os cânceres diagnosticados, mas por 5% do total de mortes causadas por neoplasias, tornando‑o o sétimo câncer mais letal no país.
Anualmente, registro com pesar quase 12 mil mortes de brasileiros pela doença, conforme o Atlas de Mortalidade do INCA. Dados internacionais da Globocan mostram que em 2020 foram 495 mil novos casos no mundo, com 466 mil óbitos no mesmo período.
O que mais me entristece ao atender esses pacientes é constatar que a taxa de sobrevida após cinco anos do diagnóstico é inferior a 5% nos casos de doença avançada com metástase.
Porém, quando conseguimos fazer o diagnóstico precoce, segundo o levantamento SEER do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, essa taxa salta para 43,9%. Isso reforça que a detecção precoce salva vidas.
Fatores de risco
Em mais de uma década acompanhando casos de câncer pancreático, identifiquei certos padrões de risco.
- O tabagismo continua sendo o principal fator de risco modificável. Pacientes fumantes frequentemente questionam se devem parar mesmo após anos de uso, e minha resposta é sempre afirmativa.
- A obesidade e o sedentarismo também aparecem com frequência. Dietas ricas em alimentos processados, açúcares e gorduras são padrões recorrentes.
Tenho notado ainda que portadores de pancreatite crônica, seja alcoólica ou não, apresentam risco até 10 vezes maior de desenvolver a doença.
Casos de diabetes de início súbito em idades mais avançadas ou quadros de diabetes descompensados sem causa aparente merecem investigação específica.
Abordagem diagnóstica e terapêutica atual
Quando há a suspeita de câncer pancreático, o médico solicita inicialmente exames de imagem como tomografia computadorizada e ressonância magnética, seguidos de testes sanguíneos para marcadores tumorais.
Em casos selecionados, uma biópsia é realizada para confirmação histológica.
O tratamento varia conforme o estágio da doença. A cirurgia continua sendo a opção mais eficaz para tumores ressecáveis. Complementamos o tratamento cirúrgico com quimioterapia, radioterapia e, em casos selecionados, imunoterapia.
Um estudo publicado em fevereiro de 2025 na revista científica Annals of Oncology revelou que a carga global desse câncer deve aumentar 95,4% até 2050, potencialmente atingindo quase 1 milhão de novos casos por ano.
Conclusão
Como cirurgião do aparelho digestivo, testemunho diariamente o impacto devastador do câncer de pâncreas.
Minha mensagem principal aos pacientes e colegas é que, apesar de seu comportamento agressivo, o reconhecimento precoce dos sintomas de câncer no pâncreas e a busca imediata por auxílio médico especializado podem mudar significativamente o prognóstico.
Se você ou alguém próximo apresentar qualquer dos sintomas descritos, especialmente de forma persistente, não hesite em buscar uma avaliação médica.
A diferença entre o diagnóstico precoce e tardio pode, literalmente, significar a diferença entre vida e morte.