Ao longo de minha carreira como cirurgião especialista do aparelho digestivo, tenho observado um aumento preocupante nos casos de câncer de pâncreas em meu consultório.

Compreender o que provoca câncer de pâncreas é fundamental tanto para a prevenção quanto para a detecção precoce.

Esta neoplasia, embora não seja das mais frequentes, representa um desafio significativo para a medicina moderna devido ao seu diagnóstico geralmente tardio e prognóstico desfavorável.

Em minha experiência clínica diária, sempre enfatizo a importância de consultar um médico especialista aos primeiros sinais suspeitos, como dor abdominal persistente, perda de peso inexplicada ou icterícia, pois o diagnóstico precoce pode alterar significativamente o curso da doença.

O meu objetivo com esse artigo é esclarecer todas as dúvidas relacionados aos fatores que contribuem para o câncer de pâncreas, pois acredito que o acesso a informações faz toda diferença!

Epidemiologia do câncer de pâncreas pelo mundo

Em minha última visita a congressos internacionais, pude constatar dados alarmantes sobre esta condição.

O câncer de pâncreas é o 12º tipo mais comum no mundo, ocupando a 11ª posição tanto entre homens quanto entre mulheres. 

Em meu consultório, observo que estes números refletem uma tendência crescente, especialmente em pacientes com fatores de risco identificáveis.

É interessante notar a distribuição geográfica desta neoplasia. Países como Uruguai (11,4 casos por 100.000 habitantes), Hungria (10,4) e Japão (9,8) apresentam as maiores taxas de incidência padronizadas por idade. 

Entre os homens, Armênia e Uruguai lideram as estatísticas com 13 casos por 100.000 habitantes.

Ainda mais preocupante é a projeção da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que, até 2030, a incidência mundial deverá dobrar e a mortalidade aumentar em 70%. 

Este cenário reforça o que sempre digo aos meus residentes: precisamos intensificar os esforços de prevenção e diagnóstico precoce.

O que provoca câncer de pâncreas: principais fatores de risco

Entre os principais fatores de risco para o câncer de pâncreas, posso destacar:

Tabagismo

O tabagismo surge como um dos fatores de risco mais consistentes. Observo que fumantes têm um risco duas a três vezes maior de desenvolver esta neoplasia em comparação com não-fumantes. 

Aproximadamente 25% dos casos de câncer pancreático estão diretamente relacionados ao tabaco. 

Costumo explicar aos meus pacientes que as substâncias carcinogênicas do cigarro danificam o DNA das células pancreáticas, iniciando o processo de carcinogênese.

Obesidade e fatores alimentares

A obesidade representa outro fator significativo, onde pacientes com índice de massa corporal (IMC) superior a 30 apresentam um risco 20% maior de desenvolver câncer de pâncreas. 

O excesso de gordura visceral, especialmente na região abdominal, parece ser particularmente prejudicial.

Quanto à alimentação, dietas ricas em gorduras saturadas e carnes vermelhas, e pobres em frutas e vegetais, aparecem consistentemente associadas a um risco elevado. 

Diabetes mellitus tipo 2

A relação entre diabetes e câncer pancreático é complexa e bidirecional, como costumo explicar em minhas palestras médicas.

O diabetes tipo 2 não apenas aumenta o risco de desenvolver a neoplasia, como também pode ser uma manifestação precoce da doença. 

Casos de diabetes de início tardio e rápida progressão sempre merecem investigação adicional.

Pancreatite crônica

Pacientes com pancreatite crônica apresentam um risco até 10 vezes maior de desenvolver câncer pancreático. 

Em meu consultório, mantenho vigilância rigorosa em pacientes com esta condição, particularmente naqueles com pancreatite hereditária, onde o risco é ainda mais elevado.

Fatores genéticos e predisposição familiar

Aproximadamente 10% dos casos de câncer de pâncreas têm componente hereditário. Por isso, pacientes com história familiar positiva, a recomendação é realizar um acompanhamento preventivo regular.

Mutações nos genes BRCA1, BRCA2, PALB2, MLH1, MSH2 e PRSS1 estão frequentemente associadas a esta neoplasia.

Como explico em minhas consultas, certas síndromes genéticas aumentam significativamente o risco, como a síndrome de neoplasias endócrinas múltiplas tipo 1, câncer colorretal hereditário não polipose (HNPCC), câncer de mama associado à mutação BRCA2 e síndrome de Peutz Jeghers.

Diagnóstico e abordagem terapêutica do câncer de pâncreas

O diagnóstico precoce continua sendo o maior desafio. Frequentemente, quando os pacientes chegam ao meu consultório com sintomas evidentes, a doença já está em estágio avançado.

Por isso, em casos de pacientes com múltiplos fatores de risco, adoto uma abordagem de vigilância proativa.

O tratamento cirúrgico, quando possível, oferece a melhor chance de cura. Procedimentos como a pancreatoduodenectomia (cirurgia de Whipple) são tecnicamente complexos, mas podem ser altamente eficazes em casos selecionados. 

Dados de um estudo conduzido no A.C.Camargo Cancer Center demonstram resultados animadores: um em cada três pacientes tratados cirurgicamente apresentou sobrevida superior a cinco anos, números comparáveis aos melhores centros norte-americanos.

Geralmente a abordagem adotada é multidisciplinar, um trabalho em conjunto com oncologistas clínicos, radioterapeutas e nutricionistas para oferecer um tratamento personalizado.

A decisão terapêutica depende de vários fatores, incluindo o estágio da doença, localização do tumor, condição geral do paciente e extensão da enfermidade.

Prevenção e recomendações clínicas

Baseado em minha experiência com centenas de pacientes, recomendo as seguintes medidas preventivas:

  1. Cessação do tabagismo.
  2. Manutenção de peso saudável e prática regular de atividade física.
  3. Dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais e pobre em gorduras saturadas.
  4. Controle rigoroso do diabetes e outras comorbidades.
  5. Para pacientes com histórico familiar positivo, recomendo programas de rastreamento personalizado.

Conclusão

O câncer de pâncreas continua sendo um desafio, e embora alguns fatores de risco não sejam modificáveis, como idade avançada e predisposição genética, muitos outros podem ser controlados através de mudanças no estilo de vida.

Como sempre digo aos meus pacientes, a prevenção é nossa melhor ferramenta.

A pesquisa avança constantemente, e mantenho-me atualizado com os últimos estudos internacionais para oferecer o melhor tratamento possível.

Com a combinação de prevenção eficaz, diagnóstico precoce e tratamento multidisciplinar, podemos melhorar o prognóstico desta doença desafiadora.

Se você apresenta sintomas persistentes ou possui múltiplos fatores de risco, o ideal é agendar uma consulta com um especialista em aparelho digestivo, pois quanto antes o câncer de pâncreas for diagnosticado, as chances de um tratamento bem-sucedido são bem maiores.

Dr. Thiago Tredicci, Gastroenterologista e Cirurgião do Aparelho Digestivo. Experiente em cirurgia geral. CRM GO 12828, RQE 8168 e 8626.