A dor no estômago, tecnicamente denominada dispepsia ou epigastralgia, é uma das queixas mais frequentes que recebo no meu consultório, e sim, é normal sentir dor no estômago.

Caracterizada por sensações de desconforto ou dor na região superior e central do abdômen, logo abaixo do osso esterno, este sintoma afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

Estudos internacionais revelam que entre 19,5% e 44% da população brasileira apresenta queixas relacionadas a males no estômago.

Como médico especialista em cirurgias do aparelho digestivo, ressalto a importância de uma avaliação especializada quando estes sintomas persistem.

Embora muitas vezes a dor de estômago não esteja associada a doenças graves, ela sempre impacta negativamente a qualidade de vida das pessoas e pode, em alguns casos, sinalizar condições que necessitam intervenção médica imediata.

É justamente sobre isso que irei abordar nesse artigo, explicando quando é normal sentir dor no estômago e quais situações exigem uma avaliação médica.

É normal sentir dor no estômago?

Sim, é normal sentir dor no estômago, que pode surgir no centro da parte superior do abdômen, abaixo das costelas, podendo se estender para os lados, costas e até mesmo o tórax.

Em minha prática clínica, observo que muitos pacientes descrevem sensações variadas, desde queimação e picadas até aperto ou cólicas que se irradiam para outras regiões do corpo.

De acordo com uma pesquisa publicada pelo British Medical Journal em 2015, aproximadamente 20% da população mundial vivencia dor de estômago, sendo mais frequente entre mulheres, fumantes e pessoas que fazem uso contínuo de anti-inflamatórios não esteroidais.

Dados mais recentes, de um estudo publicado em 2022, mostram números ainda mais expressivos: 51,9% da população global reportou ter experimentado dor abdominal nos últimos três meses, e 11% relatou que essa dor estava frequentemente relacionada às refeições.

No Reino Unido, cerca de 25% da população refere ocasionalmente dor abdominal, enquanto na China, Singapura e Itália, apenas 5,0‑6,9% da população relata dor de estômago frequente relacionada às refeições, enquanto na Turquia, Coreia do Sul e Egito essa taxa sobe para 14,0‑18,0%.

Causas comuns de dor no estômago

Diversos fatores podem desencadear esse sintoma tão comum. Entre as causas mais frequentes, posso destacar:

Gastrite

Inflamação da mucosa interna do estômago, que pode ser aguda ou crônica. As agudas geralmente estão relacionadas ao uso de anti-inflamatórios, consumo de álcool, tabagismo ou situações de estresse intenso.

Já as crônicas frequentemente estão associadas à bactéria Helicobacter pylori, alterações imunológicas ou uso contínuo de substâncias irritantes como álcool e tabaco.

Úlceras pépticas

Lesões mais profundas na mucosa do estômago ou duodeno, que causam dor mais intensa e localizada.

Muitos dos meus pacientes com úlcera relatam dor que piora com o estômago vazio e melhora após a alimentação.

Refluxo gastroesofágico e esofagite

Quando o ácido do estômago retorna para o esôfago, causando irritação e inflamação. É comum os pacientes descreverem uma sensação de queimação que sobe pelo peito.

Dispepsia funcional

Um diagnóstico feito quando há sintomas persistentes sem causa orgânica identificável. Aproximadamente 15‑25% da população sofre de distúrbios gastrointestinais funcionais.

Problemas biliares

Inflamação ou cálculos na vesícula biliar podem causar dor que se irradia para a região do estômago, especialmente após refeições gordurosas.

Quando a dor no estômago é motivo de preocupação

Baseado em minha experiência clínica, oriento meus pacientes a ficarem atentos a certos sinais de alerta que indicam a necessidade de avaliação médica imediata:

  • Dor súbita e intensa que não diminui.
  • Vômitos com sangue ou com aspecto de “borra de café”.
  • Fezes escurecidas ou com sangue.
  • Dor acompanhada de febre.
  • Perda de peso inexplicada.
  • Dificuldade para engolir.
  • Dor que desperta o paciente durante a noite.
  • Sintomas persistentes por mais de duas semanas.

Estes sintomas podem indicar condições potencialmente graves como úlceras perfuradas, hemorragias digestivas ou até mesmo neoplasias.

Como é feito o diagnóstico de dor no estômago

Quando recebo um paciente com queixa de dor estomacal, início com uma anamnese detalhada, investigando características da dor, frequência, duração, fatores que pioram ou melhoram os sintomas, e hábitos alimentares. Questiono sobre:

  • Alimentação.
  • Uso contínuo de medicamentos.
  • Histórico de saúde da família.
  • Hábitos como tabagismo e consumo de álcool.
  • Nível de estresse e qualidade do sono.

Em seguida, realizo um exame físico minucioso, palpando o abdômen para localizar pontos de dor e verificar sinais de inflamação ou massas anormais.

Dependendo dos achados iniciais, posso solicitar exames complementares como:

  • Endoscopia digestiva alta: considero o padrão‑ouro para avaliação do esôfago, estômago e duodeno, permitindo visualizar diretamente a mucosa e realizar biópsias quando necessário.
  • Teste para H. pylori: através de biópsia, teste respiratório ou exame de fezes.
  • Exames de imagem: ultrassonografia abdominal, tomografia computadorizada ou ressonância magnética.
  • Exames laboratoriais: hemograma, função hepática e pancreática, marcadores inflamatórios.

Tratamentos e recomendações para dor no estômago

O tratamento para dor no estômago varia conforme a causa identificada. Para a gastrite, por exemplo, a abordagem geralmente consiste em:

Medicamentos

  • Inibidores de bomba de prótons (IBP) como omeprazol ou pantoprazol para reduzir a acidez estomacal.
  • Antibióticos específicos quando detectada a H. pylori.
  • Protetores gástricos em casos selecionados.

Ajustes na dieta

Recomenda-se uma alimentação fracionada (pequenas refeições várias vezes ao dia), evitando alimentos irritantes como café, álcool, alimentos muito condimentados ou gordurosos.

Mudanças no estilo de vida

Orientação para redução do estresse, cessação do tabagismo, moderação no consumo de álcool e prática regular de atividade física.

Terapias complementares

Em alguns casos, sugiro o uso de chás como espinheira santa, que têm propriedades anti‑inflamatórias para a mucosa gástrica, além do uso de bolsas de água quente sobre a região abdominal para alívio temporário do desconforto.

Intervenções cirúrgicas

Em situações específicas como úlceras perfuradas, sangramento incontrolável ou suspeita de malignidade, a cirurgia pode ser necessária.

Atualmente, grande parte destes procedimentos é realizada por técnicas minimamente invasivas (laparoscopia), permitindo recuperação mais rápida e menos dolorosa.

Conclusão

Ainda que seja comum sentir dor no estômago ocasionalmente, a persistência deste sintoma não deve ser ignorada.

Em minha experiência no consultório, percebo que muitos pacientes demoram a buscar ajuda médica, tentando inicialmente automedicação, o que pode mascarar condições sérias subjacentes.

A dor no estômago representa o sintoma mais comum nas consultas ambulatoriais relacionadas a problemas gastrointestinais, e as condições associadas a este sintoma geram custos significativos aos sistemas de saúde em todo o mundo.

Tenha em mente: o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para evitar complicações e melhorar sua qualidade de vida.

Como cirurgião do aparelho digestivo em Goiânia, meu compromisso é oferecer o tratamento mais adequado para cada caso, seja ele clínico ou cirúrgico, sempre priorizando o bem‑estar e a saúde integral dos meus pacientes.

Dr. Thiago Tredicci, Gastroenterologista e Cirurgião do Aparelho Digestivo. Experiente em cirurgia geral. CRM GO 12828, RQE 8168 e 8626.