Em minha prática clínica como cirurgião geral e gastrocirurgião especializado em cirurgias do aparelho digestivo em Goiânia, tenho observado um crescente número de pacientes diagnosticados com Síndrome de Lynch.

Só que muitos pacientes não sabem que é uma condição genética que representa um dos mais importantes fatores de risco hereditários para o desenvolvimento de câncer colorretal.

O rastreamento precoce é uma das medidas mais relevantes para detectar alterações nas fases iniciais, possibilitando tratamentos com maiores taxas de sucesso.

O conhecimento sobre essa síndrome evoluiu bastante e já permite estratégias personalizadas para cada perfil genético.

O que é a Síndrome de Lynch?

A Síndrome de Lynch, também chamada de Câncer Colorretal Hereditário sem Polipose, ocorre por falhas em genes responsáveis pela reparação do DNA, como MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2.

Essas alterações genéticas prejudicam o reparo de danos no material genético, fazendo com que as células sofram mutações sucessivas, o que eleva o risco de desenvolvimento de tumores colorretais, endometriais e outros tipos de câncer.

Na minha rotina clínica, recomendo que pessoas com parentes de primeiro grau diagnosticados com câncer colorretal em idades precoces realizem testes genéticos.

Esse tipo de avaliação auxilia a confirmar a presença dessas mutações e orienta o acompanhamento médico, tornando o diagnóstico mais preciso.

Um aspecto epidemiológico relevante é a estimativa de que aproximadamente uma em cada 300 pessoas pode ser portadora de alterações genéticas associadas à Síndrome de Lynch. Este dado sublinha a importância do rastreamento ativo em famílias de risco.

Principais manifestações

Em muitos casos, os portadores de Síndrome de Lynch podem permanecer assintomáticos por bastante tempo.

Porém, quando surgem sintomas, há relatos de:

  • Sangramento retal;
  • Alterações nos hábitos intestinais;
  • Dores abdominais constantes;
  • Desconforto vago no abdômen, sem uma causa aparente.

A presença repetitiva desses sinais desperta um sinal de alerta, o que leva à investigação mais aprofundada.

A informação prévia sobre histórico familiar de tumores é uma pista fundamental e frequentemente influencia o direcionamento dos exames de imagem e endoscopia

Estratégias de rastreamento

O acompanhamento preventivo para indivíduos com risco elevado é essencial, onde a colonoscopia periódica surge como o exame principal, pois ajuda a identificar pólipos ou lesões iniciais.

Costumo indicar a primeira colonoscopia a partir dos 20 ou 25 anos, repetindo o exame a cada um ou dois anos, conforme o histórico familiar e o resultado dos testes genéticos.

Alguns pacientes necessitam de vigilância ginecológica adicional, devido ao aumento de risco para câncer de endométrio.

A cooperação entre diferentes especialistas, como ginecologistas e oncologistas, permite estabelecer um plano de rastreamento personalizado para cada caso.

Opções de tratamento

No caso da presença de lesões em fase inicial, é recomendado a remoção endoscópica de pólipos ou áreas suspeitas.

Se um tumor é identificado, a abordagem pode envolver cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, dependendo do estadiamento.

A decisão terapêutica costuma ser compartilhada entre gastroenterologista, cirurgião e oncologista, garantindo uma visão completa do caso.

No dia a dia, percebo que a evolução clínica é favorável quando se realiza um diagnóstico precoce.

Há situações em que a remoção de parte do intestino se faz necessária, principalmente quando existem múltiplas lesões ou risco muito alto de progressão.

Mudanças no estilo de vida

O estilo de vida exerce papel relevante no controle dos fatores de risco, sendo aconselhável a adoção de certas medidas, como:

  1. Prática de atividade física e uma dieta equilibrada, rica em fibras e vegetais.
  2. Evitar o consumo exagerado de carnes processadas, bebidas alcoólicas e o tabagismo.
  3. Manter um peso adequado e reduzir o sedentarismo.

Essas recomendações, aliadas ao acompanhamento regular, contribuem para diminuir a probabilidade de surgirem complicações.

Cada caso deve ser avaliado individualmente, mas a adoção de hábitos saudáveis geralmente favorecem o bem-estar geral e auxiliam no combate a doenças crônicas.

Aspectos emocionais

Em muitos momentos, o diagnóstico de Síndrome de Lynch gera ansiedade nos pacientes e em seus familiares.

No consultório, proponho um diálogo aberto e acolhedor, com espaço para esclarecer dúvidas e discutir possibilidades de tratamento.

Também indico suporte psicológico, pois lidar com a ideia de um risco maior de câncer exige orientação adequada.

A busca por grupos de apoio pode ser benéfica, principalmente quando há mais de um membro da família acometido.

O equilíbrio emocional tende a trazer resultados positivos, inclusive na adesão ao seguimento clínico e na qualidade de vida global.

Conclusão

A presença de alterações genéticas que definem a Síndrome de Lynch deve ser investigada sempre que houver histórico familiar sugestivo.

Com base na minha experiência, posso dizer que o conhecimento prévio e o planejamento de rastreamento são fundamentais para reduzir o impacto da doença.

Recomendo a quem suspeita dessa condição que busque um gastroenterologista de confiança e realize os exames necessários.

Informar-se a respeito das próprias vulnerabilidades é um passo determinante para uma vida mais equilibrada.

Caso existam dúvidas, a nossa equipe está à sua disposição. O cuidado contínuo garante maior tranquilidade e amplia as chances de identificação precoce de possíveis complicações.

Imagens: Créditos Pexels

Dr. Thiago Tredicci, Gastroenterologista e Cirurgião do Aparelho Digestivo. Experiente em cirurgia geral. CRM GO 12828, RQE 8168 e 8626.