Em minha prática clínica como especialista em cirurgia do aparelho digestivo, tenho observado um aumento significativo de casos de câncer colorretal entre meus pacientes.

Esta condição, que afeta o intestino grosso e o reto, frequentemente apresenta sinais discretos que podem passar despercebidos.

Quando a pergunta é sobre câncer colorretal como as fezes podem dar sinais de alerta é um tema que considero fundamental abordar, pois a observação atenta das fezes pode salvar vidas através do diagnóstico precoce.

Como especialista, recomendo enfaticamente que qualquer alteração persistente nas fezes seja motivo para buscar avaliação especializada, pois quanto mais cedo o diagnóstico for realizado, maiores serão as chances de cura.

Neste artigo, vou explicar em detalhes porque a alteração na aparência das fezes é um sinal de alerta!

Panorama epidemiológico atual do câncer colorretal

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) projeta que, para cada ano do triênio 2023/2025, sejam diagnosticados no Brasil 45.630 novos casos de câncer colorretal, sendo 21.970 em homens e 23.660 em mulheres.

Trata-se do segundo tipo de câncer mais comum em nosso país. Globalmente, a situação também é preocupante.

Nos Estados Unidos, um estudo de 2023 aponta que aproximadamente 153.020 indivíduos serão diagnosticados com esta neoplasia e 52.550 morrerão da doença.

Em meu consultório, tenho observado uma tendência alarmante que se confirma nas estatísticas recentes: um estudo inédito da Fundação do Câncer projeta um aumento de 21% nos casos de câncer colorretal no Brasil entre 2030 e 2040.

Este crescimento pode ser atribuído ao envelhecimento populacional, à baixa adesão a hábitos saudáveis e, principalmente, à ausência de programas eficazes de rastreamento em nosso país, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos e Europa, onde a colonoscopia é recomendada a cada dez anos a partir dos 50 anos para pacientes assintomáticos.

Câncer colorretal como as fezes podem dar sinais de alerta

As fezes são uma importante janela para a saúde intestinal. No meu dia a dia como especialista, oriento meus pacientes a observá‑las regularmente.

O câncer colorretal frequentemente provoca alterações nas fezes que, quando identificadas precocemente, podem levar ao diagnóstico em fases iniciais da doença.

  • Presença de sangue nas fezes, também conhecida como hematoquezia, é um sinal frequentemente é negligenciado ou atribuído erroneamente a hemorroidas.
  • O sangramento pode se manifestar como sangue vermelho vivo no vaso sanitário, misturado às fezes ou presente no papel higiênico.
  • Em alguns casos, quando o sangramento ocorre em porções mais altas do intestino, as fezes podem apresentar coloração escura ou preta.
  • Mudança no formato das fezes. Fezes finas e alongadas, com calibre semelhante a um lápis, podem indicar a presença de uma massa tumoral que impede a passagem normal pelo intestino.
  • A alternância entre diarreia e constipação, ou a persistência de um desses sintomas, também deve ser considerada suspeita.

Muitos pacientes relatam uma sensação de evacuação incompleta, como se o intestino não esvaziasse totalmente.

A presença de muco nas fezes é outro sinal observado com frequência em casos confirmados da doença.

Manifestações sistêmicas e sintomas associados

Além das alterações nas fezes, o câncer colorretal frequentemente provoca sintomas sistêmicos, como:

  • Dor abdominal tipo cólica.
  • Sensação de inchaço.
  • Distensão abdominal.
  • Fadiga inexplicada,

Pacientes com doença avançada podem apresentar perda de peso sem causa aparente. Esta é uma queixa que sempre investigo minuciosamente em meu consultório, especialmente quando acompanhada de outros sintomas digestivos.

Em estágios mais avançados, quando há metástases, podem surgir manifestações específicas dos órgãos acometidos, como icterícia quando o fígado está comprometido.

Fatores de risco e prevenção

O conhecimento dos fatores de risco é fundamental para a prevenção. Alguns pacientes apresentam fatores não modificáveis, como idade acima de 50 anos (que representa mais de 88% dos casos projetados para 2040) e predisposição genética.

Todavia, oriento diariamente meus pacientes sobre os fatores modificáveis: obesidade, tabagismo, sedentarismo, consumo excessivo de álcool e alimentação inadequada.

Uma dieta rica em carnes vermelhas e processadas, e pobre em fibras, está fortemente associada ao desenvolvimento da doença.

Diagnóstico precoce e rastreamento

A colonoscopia continua sendo o padrão‑ouro para diagnóstico do câncer colorretal, um exame indicado para pacientes com sintomas suspeitos e também como ferramenta de rastreamento.

Uma das grandes vantagens da colonoscopia é a possibilidade de identificar e remover pólipos potencialmente cancerígenos durante o procedimento.

Diferentemente dos Estados Unidos e Europa, o Brasil não possui um protocolo específico de rastreamento para câncer colorretal, o que contribui significativamente para diagnósticos em estágios avançados.

Conclusão

Como cirurgião do tratao digestivo com anos de experiência clínica, não posso enfatizar o suficiente a importância da observação das fezes como ferramenta de alerta precoce para o câncer colorretal.

A mortalidade por esta doença cresceu 20,5% na América Latina entre 1990 e 2019, tendência que poderia ser revertida com maior atenção aos sinais iniciais.

Encorajo meus pacientes a adotarem o hábito de observar suas fezes e a não hesitarem em buscar avaliação médica ao notarem qualquer alteração persistente.

O diagnóstico precoce continua sendo nossa principal arma na luta contra o câncer colorretal, e a simples atenção aos sinais que as fezes nos fornecem pode fazer toda a diferença entre um tratamento curativo e um prognóstico desfavorável.

Dr. Thiago Tredicci, Gastroenterologista e Cirurgião do Aparelho Digestivo. Experiente em cirurgia geral. CRM GO 12828, RQE 8168 e 8626.