Como médico especialista em doenças do aparelho digestivo, recebo com frequência pacientes preocupados com sintomas relacionados ao esôfago.
Uma das perguntas mais comuns em meu consultório é: o que causa câncer no esôfago? Esta é uma questão fundamental, pois compreender os fatores de risco pode ser decisivo para a prevenção desta doença grave.
Em minha experiência clínica, posso dizer que o conhecimento sobre as causas do câncer esofágico ainda é limitado entre a população, o que torna essencial compartilhar informações baseadas em evidências científicas.
E é exatamente esse o meu objetivo com esse artigo: explicar em detalhes as principais causas do câncer de esôfago!
Os principais fatores causais do câncer esofágico
Tabagismo e alcoolismo: a combinação mais perigosa
A grande maioria dos pacientes diagnosticados com câncer de esôfago apresenta histórico de tabagismo, alcoolismo ou ambos.
Os dados científicos confirmam essa observação: fumantes têm um risco 44 vezes maior de desenvolver a doença em comparação aos não fumantes. Já os etilistas apresentam risco 18 vezes maior.
O que mais me preocupa como médico é que entre os portadores de carcinoma escamoso de esôfago, mais de 95% são fumantes ou etilistas, e quase 90% apresentam ambos os hábitos.
Esta combinação é particularmente devastadora porque o álcool potencializa os efeitos cancerígenos do tabaco.
Refluxo gastroesofágico e esôfago de Barrett
O refluxo e o esôfago de Barrett são os principais fatores de risco para adenocarcinoma esofágico, aparecendo em metade dos casos.
O esôfago de Barrett, uma complicação do refluxo crônico, aumenta o risco de câncer em 30 a 100 vezes.
Esta condição desenvolve-se quando o ácido estomacal irrita cronicamente o revestimento esofágico, causando alterações celulares que podem evoluir para malignidade.
Obesidade: um fator de risco crescente
A obesidade merece atenção especial, pois pessoas obesas têm até 50% mais risco de desenvolver refluxo gastroesofágico, criando um ciclo que pode levar ao câncer.
Além disso, a obesidade está diretamente associada ao adenocarcinoma esofágico, sendo um dos principais fatores de risco identificados.
O que causa câncer no esôfago: fatores ambientais e dietéticos
Bebidas e alimentos em altas temperaturas
Um achado que chama atenção é a relação entre bebidas muito quentes e câncer esofágico.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o consumo de bebidas acima de 65°C é classificado como “provavelmente carcinogênico”.
Estudos recentes demonstram que beber 700ml de chá a 60°C ou mais por dia aumenta em 90% o risco de câncer esofágico.
No Brasil, esta preocupação se estende ao consumo de chimarrão, especialmente nas regiões Sul, onde observamos maior incidência da doença.
Fatores nutricionais
Pacientes com dietas pobres em frutas e vegetais apresentam maior risco.
Estudos confirmam que a baixa ingestão de vitaminas A e C, riboflavina e minerais está associada ao aumento da incidência.
Adicionalmente, o consumo frequente de pimenta mostrou-se um fator de risco significativo, com odds ratio de 2,48 em estudos brasileiros.
Dados epidemiológicos: o cenário brasileiro e mundial
Estatísticas nacionais preocupantes
Os dados epidemiológicos brasileiros revelam um cenário que me preocupa como especialista. Entre 2013 e 2023, foram registradas 193.451 internações por neoplasia maligna de esôfago no Brasil, concentradas principalmente no Sudeste (47,74%) e Sul (26,9%).
A faixa etária mais afetada é entre 50 e 69 anos, com predominância masculina representando 79,11% das internações.
Contexto mundial
No mundo, em 2022, foram diagnosticados 511.054 casos de câncer esofágico, resultando em 445.391 mortes.
A China apresenta a maior carga da doença, com 224.012 novos casos, representando 43,8% do total mundial. As taxas mais altas são observadas no Leste da África, Leste da Ásia e África Austral.
Fatores de risco emergentes e menos conhecidos
Infecção por HPV
Um aspecto que venho observando é a associação entre HPV e carcinoma escamoso de esôfago.
Estudos recentes demonstram presença de HPV em 24,4% das amostras de tecidos neoplásicos esofágicos, principalmente os subtipos 16 e 18, conhecidos por seu maior potencial maligno.
Exposições ocupacionais
A exposição a vapores químicos, poeiras da construção civil, de carvão e metal, além de vapores de combustíveis fósseis, representa fatores de risco importantes.
Estratégias de prevenção
Modificações no estilo de vida
Com base em minha experiência, as principais recomendações que faço aos pacientes incluem:
- Cessação completa do tabagismo
- Moderação ou eliminação do consumo alcoólico
- Controle do peso corporal
- Tratamento adequado do refluxo gastroesofágico
- Moderação na temperatura das bebidas consumidas
Vigilância médica
Para pacientes com fatores de risco elevados, sobretudo aqueles com esôfago de Barrett ou refluxo sintomático, recomendo endoscopia digestiva alta periódica.
Esta abordagem permite detecção precoce de alterações pré-malignas.
Conclusão
Compreender o que causa câncer no esôfago é fundamental para a prevenção desta doença devastadora.
Em minha experiência como gastrocirurgião, posso afirmar categoricamente que a maioria dos casos poderia ser prevenida através da modificação de fatores de risco controláveis.
O tabagismo, alcoolismo, obesidade e refluxo gastroesofágico representam as principais causas modificáveis.
Os dados epidemiológicos demonstram que esta doença continua sendo um desafio significativo no Brasil e mundialmente.
O conhecimento das causas oferece oportunidades reais de prevenção. Como médico especialista, enfatizo que o diagnóstico precoce e a prevenção primária são nossas melhores armas contra esta doença.
Você apresenta fatores de risco para câncer de esôfago ou sintomas preocupantes como dificuldade para engolir? Não deixe para depois.
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