A falta de ar do refluxo é uma manifestação que frequentemente confunde pacientes e até mesmo profissionais de saúde.
Em minha prática como gastroenterologista, muitos dos meus pacientes chegam ao consultório após peregrinarem por diversos especialistas em busca sobre o que fazer com a falta de ar do refluxo.
Eles nem imaginam que seus problemas respiratórios podem ter origem no sistema digestivo. Esta conexão entre estômago e pulmões é mais comum do que se pensa e merece nossa atenção especial.
Se você tem refluxo gastroesofágico e vem sentindo falta de ar, te convido a continuar a leitura e entender porque acontece e o momento certo de buscar ajuda especializada.
A surpreendente conexão entre refluxo e respiração
Durante meus anos de experiência tratando pacientes com doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), pude constatar que as manifestações respiratórias são muito mais frequentes do que inicialmente se pensava.
Estudos revelam que a DRGE está presente entre 39% e 44% dos pacientes com doenças respiratórias. No Brasil, estima-se que entre 12% a 20% da população urbana sofra com refluxo, o que representa entre 20 a 30 milhões de pessoas.
O refluxo gastroesofágico acontece quando o conteúdo ácido do estômago retorna involuntariamente para o esôfago.
Quando esse material ácido alcança as vias respiratórias superiores, pode causar irritação e inflamação, resultando em sintomas que muitas vezes são confundidos com problemas puramente respiratórios.
Dois mecanismos principais explicam como o refluxo pode afetar a respiração:
- A microaspiração de suco gástrico, onde pequenas quantidades de ácido penetram nas vias aéreas, causando irritação direta.
- O segundo mecanismo envolve o reflexo esôfago-brônquico, mediado pelo nervo vago, que pode desencadear broncoconstrição mesmo sem aspiração direta.
Sintomas que meus pacientes mais relatam
Na rotina do consultório, os sintomas respiratórios associados ao refluxo que mais escuto dos meus pacientes são:
- Sensação de falta de ar, particularmente após as refeições
- Tosse seca persistente, principalmente noturna
- Pigarro constante
- Rouquidão frequente
- Chiado no peito semelhante à asma
- Sensação de “bola na garganta”
É importante destacar que até 30% dos pacientes com tosse crônica causada por refluxo podem apresentar apenas este sintoma, sem as manifestações digestivas típicas como azia, tornando o diagnóstico ainda mais desafiador.
Um estudo realizado em Pelotas, no Rio Grande do Sul, mostrou prevalência de 31,3% de DRGE na população local.
Pesquisas internacionais indicam que a prevalência global da doença é de aproximadamente 13,98%, variando significativamente entre regiões.
Como identificar a falta de ar do refluxo
A falta de ar relacionada ao refluxo geralmente:
- Piora após as refeições, especialmente se o paciente se deita logo depois
- É mais intensa durante a noite
- Está associada a outros sintomas como azia, regurgitação ou tosse
- Melhora com medidas anti-refluxo
Durante a avaliação, sempre questiono meus pacientes sobre hábitos alimentares, horários das refeições e posição para dormir.
Muitas vezes, eles relatam que a falta de ar surge ou piora quando consomem alimentos específicos como café, chocolate, alimentos gordurosos ou quando fazem refeições muito próximas ao horário de deitar.
A investigação diagnóstica pode incluir exames como endoscopia digestiva alta e pHmetria esofágica, que possibilitam avaliar a gravidade do refluxo e confirmar sua relação com os sintomas respiratórios.
O que fazer com a falta de ar do refluxo
O tratamento da falta de ar causada por refluxo requer uma abordagem multidisciplinar. Em minha experiência, as medidas não medicamentosas são fundamentais e envolvem:
Mudanças no estilo de vida:
- Elevação da cabeceira da cama em 15-20 centímetros
- Evitar deitar-se por pelo menos 2-3 horas após as refeições
- Perda de peso quando necessário
- Cessação do tabagismo e redução do consumo de álcool
Modificações dietéticas:
- Evitar alimentos que relaxam o esfíncter esofágico inferior (chocolate, menta, café)
- Reduzir alimentos ácidos (tomate, frutas cítricas)
- Fazer refeições menores e mais frequentes
- Diminuir a ingestão de líquidos durante as refeições
Quanto ao tratamento medicamentoso, os inibidores da bomba de prótons são geralmente a primeira linha de tratamento, ajudando a reduzir a produção de ácido gástrico.
Em casos refratários, outras medicações como procinéticos podem ser considerados.
Quando buscar ajuda especializada
Oriento meus pacientes a procurar avaliação médica quando apresentam falta de ar persistente associada a sintomas digestivos.
É importante descartar causas cardíacas e pulmonares graves antes de considerar o refluxo como causa primária.
Dados recentes mostram que na região Centro-Oeste do Brasil, 47% dos habitantes apresentam sintomas de DRGE, mas apenas 39% associam esses sintomas ao refluxo, o que demonstra a importância da educação médica continuada sobre esta condição.
A colaboração entre gastroenterologistas, pneumologistas e otorrinolaringologistas é essencial para o tratamento adequado desses pacientes.
Em minha prática, sempre mantenho comunicação próxima com colegas dessas especialidades para garantir o melhor cuidado aos meus pacientes.
Conclusão
A falta de ar do refluxo é uma manifestação real e significativa que pode impactar profundamente a qualidade de vida dos pacientes.
Posso afirmar que o reconhecimento precoce desta condição e o tratamento adequado proporcionam alívio importante dos sintomas.
O sucesso terapêutico depende fundamentalmente da adesão às mudanças de estilo de vida, combinadas com o tratamento medicamentoso apropriado quando necessário.
É gratificante ver meus pacientes recuperarem sua qualidade de vida quando conseguimos controlar adequadamente o refluxo e, consequentemente, melhorar seus sintomas respiratórios.
Está sofrendo com falta de ar que pode estar relacionada ao refluxo gastroesofágico? Não deixe que esses sintomas afetem sua qualidade de vida.
Como especialista em gastroenterologia com ampla experiência no tratamento de refluxo, ofereço uma abordagem personalizada para cada paciente.
Agende sua consulta e descubra como podemos ajudar você a respirar melhor e viver com mais qualidade!