Em minha prática clínica como gastroenterologista especialista em cirurgias do aparelho digestivo, observo diariamente como os sintomas de refluxo avançado podem impactar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
Embora muitas pessoas considerem o refluxo gastroesofágico apenas um “incômodo digestivo”, a realidade é que esta condição pode evoluir para complicações graves quando não tratada adequadamente.
A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) afeta aproximadamente 12% a 20% da população brasileira, o que representa entre 25,2 milhões de pessoas em nosso país.
No mundo, estudos mostram que cerca de 20% da população convive com essa condição, demonstrando o impacto deste problema de saúde pública.
Neste artigo, irei compartilhar os principais sintomas associados ao refluxo avançado, as complicações e qual é o momento certo de buscar ajuda médica!
Compreendendo a Evolução do Refluxo Gastroesofágico
Durante meus anos de experiência, tenho observado que muitos pacientes chegam ao consultório quando o refluxo já evoluiu para estágios mais complexos.
O refluxo gastroesofágico ocorre quando o conteúdo ácido do estômago retorna involuntariamente para o esôfago, um órgão que não possui as defesas necessárias para suportar essa acidez.
Em condições normais, existe um mecanismo de defesa natural representado pelo esfíncter esofágico inferior, uma espécie de válvula que impede o retorno do conteúdo gástrico.
Quando este mecanismo falha, seja por enfraquecimento muscular, presença de hérnia de hiato ou outros fatores, o ácido gástrico irrita continuamente a mucosa esofágica.
Reconhecendo os Sintomas de Refluxo Avançado
Os sintomas de refluxo avançado diferem significativamente das manifestações iniciais da doença.
Enquanto nos estágios iniciais os pacientes relatam principalmente azia e regurgitação, o refluxo avançado apresenta um espectro muito mais amplo e preocupante de manifestações clínicas, como:
- Rouquidão persistente.
- Tosse crônica sem causa aparente.
- Dor torácica intensa.
- Dificuldade progressiva para engolir alimentos.
Estes sinais indicam que o ácido gástrico está afetando não apenas o esôfago, mas também estruturas vizinhas como a laringe e as cordas vocais.
Um dado particularmente alarmante que observo em minha prática é que muitos pacientes ignoram sintomas como pigarro constante, engasgos noturnos frequentes e alterações na voz, não associando essas manifestações ao refluxo gastroesofágico.
Estudos mostram que estes sintomas extraesofágicos podem estar presentes em até 47% dos casos na região Centro-Oeste do Brasil.
Complicações Graves: Quando o Refluxo Se Torna Perigoso
As complicações do refluxo avançado representam uma das principais preocupações em minha prática cirúrgica. A exposição crônica ao ácido gástrico pode levar ao desenvolvimento de esofagite erosiva, úlceras esofágicas e, em casos mais graves, ao esôfago de Barrett.
O esôfago de Barrett, uma condição que afeta aproximadamente 3 milhões de brasileiros, representa uma das complicações mais sérias do refluxo crônico.
Esta condição caracteriza-se pela substituição do epitélio normal do esôfago por células semelhantes às do intestino, aumentando significativamente o risco de desenvolvimento de adenocarcinoma esofágico.
Em pesquisas conduzidas na UNICAMP, observou-se uma prevalência de 10,06% de esôfago de Barrett em pacientes com DRGE, com predominância em homens (60% dos casos) e maior incidência na faixa etária entre 61 e 70 anos.
Estes dados reforçam a importância do diagnóstico precoce e acompanhamento especializado.
Manifestações Otorrinolaringológicas: Além do Sistema Digestivo
Uma das características mais intrigantes dos sintomas de refluxo avançado é sua capacidade de afetar sistemas aparentemente não relacionados ao trato digestivo.
Cerca de 30% dos meus pacientes com refluxo avançado apresentam manifestações otorrinolaringológicas significativas.
O refluxo laringofaríngeo, que ocorre quando o ácido atinge a faringe e laringe, pode causar sintomas como:
- Rouquidão persistente.
- Sensação de globus (algo preso na garganta).
- Dor de garganta crônica.
- Otite recorrente.
Muitos pacientes buscam inicialmente especialistas em otorrinolaringologia antes de receberem o diagnóstico correto de refluxo gastroesofágico.
Diagnóstico e Avaliação Especializada
O diagnóstico preciso dos sintomas de refluxo avançado requer uma abordagem metodológica que combina avaliação clínica cuidadosa com exames complementares específicos.
Em minha prática, utilizo a endoscopia digestiva alta como exame fundamental para avaliar o grau de lesão esofágica e identificar possíveis complicações.
Estudos brasileiros demonstram que a esofagite erosiva grau 1 está presente em aproximadamente 23,2% dos pacientes com sintomas típicos de DRGE, enquanto a esofagite grau 2 afeta 3,6% dos casos.
Estes dados evidenciam a importância da avaliação endoscópica para estratificação adequada dos pacientes.
Abordagem Terapêutica Integrada
O tratamento dos sintomas de refluxo avançado exige uma abordagem multidisciplinar que pode envolver desde modificações no estilo de vida até intervenções cirúrgicas especializadas.
Aproximadamente 40% dos pacientes com refluxo avançado necessitam de algum tipo de intervenção cirúrgica para controle adequado dos sintomas.
As modificações dietéticas e comportamentais permanecem fundamentais no controle inicial.
Geralmente oriento aos meus pacientes:
- Evitar refeições volumosas antes de dormir.
- Elevar a cabeceira da cama.
- Reduzir o consumo de alimentos ácidos e gordurosos.
- Manter peso corporal adequado.
Perspectivas e Inovações no Tratamento
A evolução das técnicas cirúrgicas minimamente invasivas tem revolucionado o tratamento do refluxo gastroesofágico avançado.
Em minha prática cirúrgica, a fundoplicatura laparoscópica tem demonstrado excelentes resultados para pacientes com sintomas refratários ao tratamento clínico.
Quando Buscar Ajuda Médica
Muitos pacientes demoram a procurar atendimento, acreditando que os sintomas vão desaparecer sozinhos ou que são apenas consequência de uma alimentação pontual.
No entanto, há sinais que não devem ser ignorados e que indicam a necessidade de avaliação especializada.
Se você apresenta azia frequente, mais de duas vezes por semana, ou episódios recorrentes de regurgitação, é hora de investigar. Veja outros sinais de alerta:
- Rouquidão persistente;
- Tosse crônica sem causa pulmonar evidente;
- Sensação de bolo na garganta (globus faríngeo);
- Dificuldade ou dor ao engolir alimentos;
- Engasgos noturnos;
- Episódios de vômito com sangue ou presença de fezes escurecidas.
Esses sintomas podem indicar a progressão do refluxo para um estágio mais grave ou a presença de complicações como esofagite ou esôfago de Barrett.
Quanto mais cedo ocorre o diagnóstico, maiores são as chances de evitar intervenções complexas e restaurar a qualidade de vida do paciente.
Conclusão
Os sintomas de refluxo avançado representam um desafio diagnóstico e terapêutico que requer atenção especializada.
Como gastroenterologista cirurgião, enfatizo que o reconhecimento precoce destes sintomas e o tratamento adequado podem prevenir complicações graves como o esôfago de Barrett e o adenocarcinoma esofágico.
A DRGE não é apenas um “problema de estômago”, mas uma condição complexa que pode afetar diversos sistemas do organismo.
Minha experiência demonstra que o sucesso terapêutico depende fundamentalmente do diagnóstico precoce, avaliação especializada e implementação de estratégias terapêuticas individualizadas.
Não ignore os sinais do seu corpo. Se você apresenta sintomas persistentes de refluxo, principalmente manifestações atípicas como rouquidão, tosse crônica ou dificuldade para engolir, agende sua consulta comigo, Dr. Thiago Tredicci.
Juntos, podemos identificar a melhor estratégia para seu caso e prevenir complicações futuras. Sua saúde digestiva merece atenção especializada!